segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um monstro no coração

Todo escritor traz em seu coração um monstro que, semelhante à tênia no estômago, devora os sentimentos à medida que eles ali aparecem. Quem triunfará? A doença do homem, ou o homem da doença? Certo é que é preciso um grande homem para equilibrar seu gênio e seu caráter. O talento engrandece, o coração seca. A menos que seja um colosso, a menos que se tenha os ombros de Hércules, fica-se, ou sem coração, ou sem talento. (Honoré de Balzac, 1837). Todo escritor traz em seu coração um monstro que, semelhante à tênia no estômago, devora os sentimentos à medida que eles ali aparecem. Quem triunfará? A doença do homem, ou o homem da doença? Certo é que é preciso um grande homem para equilibrar seu gênio e seu caráter. O talento engrandece, o coração seca. A menos que seja um colosso, a menos que se tenha os ombros de Hércules, fica-se, ou sem coração, ou sem talento. (Honoré de Balzac, 1837).Todo escritor

sábado, 28 de janeiro de 2012

Sobre Versos - Rilke, 1910

"Ah, mas versos significam muito pouco se escritos cedo. Devia-se esperar, reunir sentido e doçura numa vida inteira, se possível bem longa, e depois, bem no fim, talvez se conseguissem dez versos bons. Pois os versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos (a esses, temos cedo demais) - são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer. É preciso poder recordar caminhos em regiões desconhecidas, encontros inesperados, e despedidas que há muito sentíamos chegar - dias da infância, ainda não explicados, os pais que tínhamos de magoar quando nos dava alguma alegria e não a entendíamos (era uma alegria para outra pessoa), doenças de criança que começavam de modo tão singular, com tantas e tão profundas transformações, dias em quartos silenciosos e isolados, e manhãs no mar, o mar sobretudo, mares, noites de viagem rumorejando no alto e voando com todas as estrelas - e poder pensar em tudo isso ainda não é suficiente. É preciso ter lembranças de muitas noites de amor, nenhuma semelhante à outra, gritos de mulheres dando à luz, leves e alvas parturientes adormecidas que se tornavam a fechar. E também é preciso ter estado com moribundos, sentar-se junto aos mortos no quartinho com a janela aberta, e aqueles ruídos intermitentes. E também não basta ter recordações. É preciso saber esquecê-las, quando são muitas, e ter a grande paciência de esperar que retornem por sim. Pois as lembranças em si ainda não o são. So quando se tornarem sangue em nós, olhar e gesto, sem nome, não mais distinguíveis de nós mesmos, só então pode acontecer que numa hora muito rara brtoe do meio delas a primeira palavra de um poema". (RILKE, Rainer Maria, 1910, p. 17-18).