quinta-feira, 19 de junho de 2008

A porta que se abre, a porta que se fecha

Silêncio na casa, o frio da noite e a quietude na cama.

Um cochilo e por um instante me vi adolescente, ouvindo novamente o barulho das chaves na porta. A porta se abrindo e o chegar de alguém.

Alguém, pai, alguém, marido, que caminha até a cozinha, que abre a geladeira, come ou bebe, que fecha e geladeira.

Passos na casa, vindo em minha direção, chegando até o quarto e me dando um beijo de boa noite: - Boa noite, linda!

Fim dos passos, fim do cochilo. Não havia ninguém ali além de mim, a porta estava fechada. Nunca mais ouviria o barulho de chaves abrindo a porta ou de alguém chegando.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A floresta e o pai

Muitas árvores grandes, grossas, que não aceitavam ser abraçadas. Cipós, emaranhados de cipós, que formavam a rede e uniam todas as árvores do mundo!

Não dava para ver o céu. Raios de sol atravessavam as folhagens e as densas brumas da manhã.

Ele estava ali, em silêncio, comigo.

Minha filhinha corria ao meu encontro e corria de volta para as árvores. O esconde-esconde e as risadas.

Ele andava devagar, ao redor, observando.

Pai, que nunca me disse amar, mas bastava olhar nos olhos cansados de muitos livros e florestas para perceber o calor no coração, o socorro de pai na hora propícia...

Nunca mais voltei na floresta...nunca mais ele caminhou ao meu lado.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Gato e a Noite

Eram cinco da manhã, ela corria, na neblina, sozinha...todos os dias começavam assim.

As pessoas desapareciam, sempre. Num mundo distante, que jamais poderia alcançar.

De repente um gato cortou o seu caminho naquela madrugada fria. Era cinza, era pardo, era multidão, era tudo. Ele parecia querer guiá-la a algum lugar.

Não conseguia ver bem quem ele era...a densa neblina não deixava. Sorriu, era fácil sorrir, aliviava o percurso da corrida que já estava quase no fim.

Caminharam juntos por algum tempo, depois ele adentrou floresta para além, em busca de outras aventuras. Pois o dia já estava amanhecendo e o gato e a noite precisavam ir embora.

Ela subiu, então, o morro sozinha, ofegante, mas caminhando desta vez. A vida estava mais tranqüila agora...