quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Jimmy, Boyle e as pesquisas acadêmicas

Eles eram dois, Jimmy e Boyle.

Um dia, por detrás daquela pequena grade de portão branca, eles se deram conta de que já estavam juntos em uma convivência pacífica há mais de onze anos.

Jimmy um yorkshire mestiço e boyle, um viralata branco, com um corpanzil forte. Era no calor da tarde, que eles dormiam juntos. Jimmy em cima do corpanzil branco de Boyle. E quando os estudantes passavam pela rua, os dois lançavam um olhar lânguido, comum àqueles que gostariam de ser mais amados. Esse jeito de estar junto era melhor no inverno. Alguns alunos que passavam por ali sorriam, gratos pela amizade dos dois caezinhos.

O primeiro a ser comprado foi Jimmy, pois era pequeno, peludo e fazia companhia à sua dona Susan, uma garotinha de doze anos de idade. No início, o lugar em que Jimmy veio morar era tranquilo, uma casa de dois andares, branca, com uma pequena floresta e um riacho atrás. A casa era habitada pelos pais de Susan, um pintor e uma professora de escola pública. Aquele era um dos poucos bairros sossegados da grande São Paulo, cuja fronteira era o imenso muro da universidade.

Naquele tempo, não haviam muitos estudantes. Tudo era tranquilo e calmo. Arranjaram para Jimmy uma pequena casa de madeira, toda nova e cheirando a castanheira. E compraram também uma pequena bola vermelha, que sua dona, Susan, não se cansava de jogar para que Jimmy fosse, correndo, pegá-la.

Depois veio Boyle. Ele estava perdido na rua, procurava por comida e acabou encontrando um amigo fiel de quem nunca mais se separou. Na pequena área de ardósia, que formava o quintal ao fundo da casa, cada um deles tinha o seu espaço e a sua hora.

Com o passar dos anos, Susan cresceu e resolveu estudar Química em uma faculdade no interior do estado. Jimmy se lembra de quando ela partiu para nunca mais voltar. Todos choravam muito, inclusive ele. Gemia, inquieto, colocando o rabo entre as pernas, sentando-se e levantando-se, como se a enorme casa de Susan, a sua casinha e tudo ao seu redor fosse pequeno demais. Susan chegou perto dele, abaixou-se e pegou-o no colo. Ele lambia sua face rapidamente com um certo desespero.

Susan acalmou-o, dizendo: - "Jimmy, meu companheiro! Quantas vezes você não foi o responsável pela minha felicidade intensa! Eu te amo! Logo voltarei para brincarmos, cuide bem do papai e da mamãe."

Durante muito tempo, eu, expectadora dessa história relutei em escrever esse conto. Ao subir e descer o morro em direção à universidade, passava por aquele pequeno portão de grades brancas, às vezes pensava no que via como uma história interessante que merecia ser registrada, às vezes pensava se tratar de uma história um tanto quanto infantil. No todo, o que sentia era que Jimmy clamava por uma voz que revelasse seus segredos e suas ambições enquanto ainda tinha um pouco de tempo. Quando o conheci, ele já estava morando com Boyle e todas as vezes que o via, era o seu olhar e não o de seu amigo mais jovem que me incitava a escrever.

Boyle chegou até aquele lugar anos depois de Susan ter partido. Ela voltou no primeiro ano de faculdade, algumas vezes, para casa. Nos feriados especiais. No segundo ano voltou menos e no terceiro ano, voltou apenas no natal. Agora, Jimmy sabia que Susan havia se casado e morava em uma cidade distante. Ouvira que ela tivera um bebê e que havia comprado um cãozinho novo, mais forte e mais bonito que ele, de uma raça mais nobre. Ele vira uma foto que caíra sob a mesa da cozinha enquanto os pais de Susan conversavam sobre a filha.

Depois disso, Boyle, percebendo a sua tristeza, o convidou para seguirem para o quintal onde poderiam respirar ar puro. Boyle era um cão forte. Ao redor de seu olho direito havia uma mancha preta redonda. Seu latido era alto e impressionava os transeuntes. Agora o movimento dos estudantes na rua aumentara muito e o bairro começou a ficar agitado e perigoso. Alguns assaltantes iam lá à noite, para realizar pequenos furtos e conseguir a picada da noite.

Depois que Susan fora embora, Boyle se tornara o companheiro fiel de Jimmy que agora não corria mais como antes, enxergava pouco e comia menos.

A vida passa e os bons amigos que deveriam ficar, inevitavelmente também passam com ela. E as pesquisas, as disputas pelo saber, as subidas e descidas dos estudantes pelo morro, desesperados com a falta de emoção ou carregando no peso dos ombros a vontade de saber, pouco influenciavam o mundo cotidiano ao seu redor. Todas as emoções se passavam na mente, os altos, os baixos, todos os temores e esperanças e o cotidiano e o rio, agora mais sujo, ainda permanecia correndo em direção ao mar.

domingo, 5 de julho de 2009

Amizade

Olhou para as próprias mãos que estavam ficando velhas, esmaltes coloridos já não ficavam tão bem assim nela...Ora, seja generosa nesta hora, abra as mãos e escreva! Deixe a tua música sair de você, tenha um pouco de consideração e paciência com as suas próprias palavras...elas são valiosas para mim, quando estão no papel ou na tela de um computador. Mas são o vento quando simplesmente ditas...

Entrou no Orkut em busca de alguém, procurou entre os amigos, não havia ninguém importante... lembrou-se de uma colega antiga, uma colega de infância que tinha o mesmo nome da "mãe do mar".

Achou, achou, escreveu para ela como se fosse a primeira vez dentre as muitas cartas que havia enviado enquanto se separavam da turma, quando eram adolescentes, nas férias de final de ano. Um texto longo, que falava pouco dela. O importante era...Pronto, havia alguém com quem conversar.

Olhou para o seu blog e para os comentários ali escritos. Sim, era uma possibilidade, utilizar aquele espaço informacional para ser...talvez começasse tudo por ali, essa nova construção dela mesma, como pessoa que fala e que passa a existir.

"El cantautor y su computadora, el pastor y su afeitadora, el despertador que ya está anunciando la aurora / y en el telescopio se demora la última estrella / la máquina hace el hombre... y es lo que el hombre hace con ella."
ECO - Jorge Drexler

sábado, 27 de junho de 2009

A Estrada

E o que era agora, que ele falava e falava sem pensar...era uma história boba de gente que crescia vendo coisas e depois se cansava.

Penso nas meninas e nos sentimentos delas, quão rápido eles estão passando e no quanto eu não tenho acompanhado: saudades, saudades.

Era hora de ir embora e eu só queria ficar quieta no carro, como sempre fazia quando era pequena.