sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sobre o que escrevo...

"Como escrever senão sobre aquilo que não se sabe ou que se sabe mal? É necessariamente neste ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro. É só deste modo que somos determinados a escrever. Suprir a ignorância é transferir a escrita para depois ou melhor, torná-la impossível. Talvez tenhamos aí, entre a escrita e a ignorância uma relação ainda mais ameaçadora que a relação geralmente apontada entre a escrita e a morte, entre a escrita e o silêncio. Falamos, pois, de ciência, mas de uma maneira que, infelizmente, sentimos não ser científica." [página 18].

DELEUZE, Guilles. Diferença e repetição. 2ed. Tradução: Luiz Orlandi e Roberto Machado. São Paulo: Graal, 2006.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O que quer dizer amar alguém?

"o que quer dizer amar alguém? É sempre apreendê-lo numa massa, extraí-o de um grupo, mesmo restrito, do qual ele participa, mesmo que por sua família ou por outra coisa; e depois buscar suas próprias matilhas, as multiplicidades que ele encerra e que são talvez de uma natureza completamente diversa. Núpcias celestes, multiplicidades de multiplicidades. Não existe amor que não seja um exercício de despersonalização sobre um corpo sem órgãos a ser formado; e é no ponto mais elevado desta despersonalização que alguém pode ser nomeado, recebe seu nome ou seu prenome, adquire a dicernibilidade mais intensa na apreensão instantânea dos múltiplos que lhe pertencem e aos quais ele pertence. (...) Cada um passa por tantos corpos em cada um." [página 49]

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Tradução: Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa. São Paulo: Ed. 34. v. 1 (Coleção TRANS).

domingo, 26 de outubro de 2008

O menino e cachorro

Eles estavam lá, sentados no banquinho da praça, em plena sexta-feira, no meio da multidão agitada.

Era meio-dia, o menino e o cachorro, os dois sorrindo.

Eu estava com pressa porque tinha muitas coisas para escrever e entregar, coisas que não eram minhas, mas um serviço pago de subjetividade.

Os dois olharam para mim juntos e perguntaram: "- Pra que tanta pressa? Você não sabe que ao alimentar a máquina, vai se dar mal?"

Pensei em parar por ali, em comprar um sorvete para nós três. Aqueles dois pareciam conhecer bem a angústia pela qual eu estava passando.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Social Media


Blogs, Influencia y Publicidad

From: julioalonso, 1 day ago





Presentación del estudio "Blogs, influencia y publicidad" elaborado por GFK para Social Media SL


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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mary Janne - a Estranha


Mary Janne era uma menina estranha, quieta e calada. Ela tinha problemas de vista, mas gostava de escrever sem óculos.Vivia com aftas na boca e com machucados nas mãos. Todos na família podiam ver como iria ser triste o destino de Mary Jane.
Aos 14 anos de idade ela obedecia fielmente ao pai, não saindo de casa para festa alguma. Seu passa-tempo favorito era ler e escrever histórias que inventava, porque talvez um dia gostasse de lê-las.
Aos poucos, Mary Janne foi percebendo que ser uma boa menina não a tornava mais feliz a não ser por perceber uma certa satisfação no olhar alheio.
Assim, Mary Janne resolveu partir, em busca de um lugar que pudesse ser livre.
Ela tinha boas idéias e isso bastava...
Conseguiu ganhar muito dinheiro escrevendo coisas e obedecendo às pessoas e a herança com a qual permaneceu, depois do falecimento de seu pai, fizeram dela uma mulher muito procurada e admirada por todos.
Interessante perceber como isso não alegrava o coração de Mary Janne. "Oras! Que bobagem, qualquer uma no seu lugar ficaria muito grata por tudo isso!" Dizia-lhe sua mãe, às lágrimas pelo telefone: "- Aonde foi que eu errei minha filha! Aonde foi que eu errei...".

sábado, 26 de julho de 2008

Direto das Colinas de Bunker Hill

" Tinha que pensar. Não ajoelhei; sentei e fiquei olhando as vagas comendo a praia. Isso é ruim, Arturo. Você leu Nietzsche, leu Voltaire, você devia saber. Mas raciocinar não ia resolver nada. Eu podia morrer de raciocinar, mas raciocinar não estava no meu sangue. Era meu sangue que me mantinha vivo, sangue fluindo através de mim, me dizendo que estava errado. Fiquei sentado lá e me entreguei ao meu sangue, deixando que ele me carregasse nadando de volta aos fundos oceanos dos meus primórdios." (FANTE, 1987: 100).




FANTE, John.(1987) Pergunte ao pó. 3.ed. Trad. Paulo Leminski. São Paulo: Brasiliense.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A tarde leve

O céu dourado, o silêncio, as àrvores quietas, o descanso.

A música doce, a música fluindo baixinha, quase um sussurro.

As roupas pingando no varal.

O cheiro do pão fresco vindo da padaria.

- Vovó!

E céu vai ficando mais vermelho, mais escuro e o tempo mais frio...

Os telhados das casas úmidos: as portas vão se fechando.

Cheiro de café.

- O que eu acho?

Acho que eu merecia ser uma coisa melhor do que sou, algo mais eu, assim a tarde fica mais leve, fica mais minha.

Num silêncio, numa quietude infinita, que me diz quem eu sou.

Contos de Fadas para Mulheres do Séc. XXI

'Conto de Fadas para Mulheres do Século 21'

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa,
independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.
Então, a rã pulou para o seu colo e disse:
Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias
as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...
E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:
"Nem fo...den...do!".
(Luís Fernando Veríssimo).

Enviado pelo meu admirado ex-marido: Naná!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Pergunte ao Pó

"Outro dia, poesia!


Escreva um poema pra ela, derrame o coração em doces cadências; mas eu não sabia fazer poesia. Comigo era amor e flor, rimas, péssimas, sentimentos banais. Oh Meu Jesus, não sou escritor coisa nenhuma: não consigo nem criar uma quadrinha, eu não presto pra nada. Parei na frente da janela e levantei as mãos para o céu; bom pra nada, só uma farsa barata; nem escritor nem amante; nem carne nem peixe.


Mas qual era o problema?"


FANTE, John.(1983) Pergunte ao pó. Trad. Paulo Leminski.3 ed. São Paulo: Brasiliense.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A porta que se abre, a porta que se fecha

Silêncio na casa, o frio da noite e a quietude na cama.

Um cochilo e por um instante me vi adolescente, ouvindo novamente o barulho das chaves na porta. A porta se abrindo e o chegar de alguém.

Alguém, pai, alguém, marido, que caminha até a cozinha, que abre a geladeira, come ou bebe, que fecha e geladeira.

Passos na casa, vindo em minha direção, chegando até o quarto e me dando um beijo de boa noite: - Boa noite, linda!

Fim dos passos, fim do cochilo. Não havia ninguém ali além de mim, a porta estava fechada. Nunca mais ouviria o barulho de chaves abrindo a porta ou de alguém chegando.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A floresta e o pai

Muitas árvores grandes, grossas, que não aceitavam ser abraçadas. Cipós, emaranhados de cipós, que formavam a rede e uniam todas as árvores do mundo!

Não dava para ver o céu. Raios de sol atravessavam as folhagens e as densas brumas da manhã.

Ele estava ali, em silêncio, comigo.

Minha filhinha corria ao meu encontro e corria de volta para as árvores. O esconde-esconde e as risadas.

Ele andava devagar, ao redor, observando.

Pai, que nunca me disse amar, mas bastava olhar nos olhos cansados de muitos livros e florestas para perceber o calor no coração, o socorro de pai na hora propícia...

Nunca mais voltei na floresta...nunca mais ele caminhou ao meu lado.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Gato e a Noite

Eram cinco da manhã, ela corria, na neblina, sozinha...todos os dias começavam assim.

As pessoas desapareciam, sempre. Num mundo distante, que jamais poderia alcançar.

De repente um gato cortou o seu caminho naquela madrugada fria. Era cinza, era pardo, era multidão, era tudo. Ele parecia querer guiá-la a algum lugar.

Não conseguia ver bem quem ele era...a densa neblina não deixava. Sorriu, era fácil sorrir, aliviava o percurso da corrida que já estava quase no fim.

Caminharam juntos por algum tempo, depois ele adentrou floresta para além, em busca de outras aventuras. Pois o dia já estava amanhecendo e o gato e a noite precisavam ir embora.

Ela subiu, então, o morro sozinha, ofegante, mas caminhando desta vez. A vida estava mais tranqüila agora...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A mão que balança o pêndulo

Os olhos de ambos estavam fixos no pêndulo.
- Será que você gosta de mim?
Creme de cacau, sabonete de brigadeiro. Pontes e mais pontes e a cidade, uma devassidão de pequenas luzes tremulantes. O rio frio, o cheiro ruim.
Não se sabe que um caminho longo se faz por partes, pois desse modo dá esperança ao coração do caminhante?
O balanço do pêndulo não pára.
- Será que é gente do bem?
Difícil é carregar o peso desse olhar que marca a vida de artistas e escritores, esse peso de ver o mundo de um jeito diferente, codificável em tintas e palavras.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Premier Jour

Des draps blancs dans une armoire
Des draps rouges dans un lit
Un enfant dans sa mère
Sa mère dans des douleurs
Le pére dans le couloir
Le couloir dans la maison
Le maison dans la ville
La ville dans la nuit
La mort dans un cri
Et l'enfant dans la vie

Jacques Prévert, Paroles (1946)

Esse poeta viveu na França, no tempo de segunda guerra mundial, e se dispôs a falar de coisas cotidianas carregadas de uma incrível sensibilidade, contrariando as expectativas de todos os demais autores da época para os quais ficou marcado como o assunto principal a guerra.

sábado, 5 de abril de 2008

Overplay!

Ele escutou. Ela gritava lá de baixo.

"Overplay!"

De novo, que saco! Que gritaria louca por causa de nada.

Ouviu os passos dela subindo rápido pela escada.

"E aí? Fez o login?"

Era sempre escandalosa...com aquelas pernas roliças de adolescente.

Kayo olhou para os olhos arregalados da irmã e não pode se conter, começou a rir com seu cigarro já pela metade, na boca.

"Que desespero por causa de nada! Já fiz o login sim, agora vc pode ir ao show do Simple Plan..."

Ela procurava desesperada na tela do computador um nome na lista dentre os escolhidos para um lugar especial no show.

" Uauauauauauau! Olha, achei! Estou aqui!"

" Quer fazer o favor de tirar essa porra de dedo daí!" Disse isso referindo-se à mão da irmã que estava na tela do monitor.

" Você tá estressado pq naum vai poder ir"

" Nem quero ir nessa p...depois fica tudo no youtube pra gente ver...banda de play..."

Ela colocou as mãos sobre os ombros dele e chegou devagarinho perto do seu ouvido, sussurando... "o-v-e-r-p-l-a-y"

Kayo se levantou num pulo gritanto: " Suma já daqui, sua louca!"

"kkkkkkkkk" Ela desceu as escadas, gargalhando! Sabia que o irmão detestava que lhe falassem baixinho no ouvido.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Mentiras para o Sr. Nicetas sobre reinos e multidões de povos

Sabes, senhor Nicetas, quando se diz uma coisa que se imagina, e os outros dizem que é exatamente assim, acaba-se por acreditar nela, afinal.
(ECO, 2007).

Nicetas Coniate, afinal, juiz supremo do santo império, logóteda dos segredos, queria saber se a pessoa com quem conversava era ou não um mentiroso.

Seu discurso era claro, não manifestava nenhuma contradição. Aquele homem falava calmamente em um grego fluente e sua face permanecia límpida enquanto gesticulava os braços lentamente durante o discurso.

A história era longa, falava de reinos e multidões de povos, falava de democracia e de lugares nos quais a sabedoria do rei era proveniente de ouvir os discursos da multidão.

'Como?' Perguntou Nicetas franzindo a testa num olhar repugnante. 'Como a verdade e a lei poderiam estar nas palavras da multidão, essa turba de ignorantes?'

A quem o interlocutor respondeu prontamente:

'Vida, e não somente a verdade, Sr. Nicetas, é o que encontramos nos discursos provenientes da multidão. Não se pode negar jamais que não saibam aquilo sobre o qual estão falando'.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

DJ's com Asas de Anjos

The rich people cry too, and again...

Era uma festa no Leopoldo Plaza's Tics.
Ela já sabia muito bem o que vestir e como ir.
Muitas companhias, muitas opções.
Mas a angústia permanecia, lembraças da última vez.

Quem nunca viu uma baixaria no Leopoldo?
Só quem nunca frequentou aquele lugar...
Boas roupas são incapazes de disfarçar qualquer tipo de grosseria.

Uma festa, um tapa no rosto e muitas outras agressões.
Ter que ser feliz era simplesmente insuportável!
De que adiantava tanto dinheiro se não havia solução
para aquela angústia toda.
Se não havia liberdade...

Lágrimas...alguém batia na porta do quarto, ela precisava ir.
Precisava ir já, fugir do sofrimento. Era uma solução.

Decepção era a palavra mais certa.

Mas nesta festa havia DJ's com asas de anjos,
E uma esperança, bem suave, começou a surgir...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Suzie_Pukka

Attention for Suzie_Pukka's blog!
If you know her, you'll know some kind of literacy spaces on web!

Find this!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Virtual Word: Crime and Passion

The Tiny Life, by Julian Dibbell, is a book about the social online life in '90s, based on writer memories and an etnography research.

To free download visit: http://www.lulu.com/content/1070691.

An opinion about this please, laught here!