segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Família

"Assim, minhas relações com a família tinham-se tornado muito menos fáceis do que antes. Minha irmã não me idolatrava mais sem restrições, meu pai achava-me feita e como que me censurava, minha mãe desconfiava da obscura mudança que advinhava em mim. Se lessem no meu cérebro, meus pais me condenariam; ao invés de me proteger como outrora, o olhar deles me punha em perigo. Eles próprios tinham descido dos céus mas eu não aproveitei disso para recusar seu julgamento. Ao contrário, senti-me duplamente contestada; não habitava mais um lugar privilegiado e havia brechas em minha perfeição; estava incerta de mim mesma e vulnerável. Minhas relações com os outros deviam modificar-se em consequência." (BEAUVOIR, 2009, p. 115).

Este pequeno trecho de Memórias de uma Moça Bem Comportada de autoria de Simone de Beauvoir (1958) remete-nos ao momento em que deixamos de confiar em nossos pais ou parceiros como nossos maiores apoiadores, dependendo de nós mesmos para trilhar um caminho bom pela vida. Ninguém é responsável pela felicidade do outro, pois isso é algo impossível de prover a quem amamos. A felicidade depende de nós mesmos, de fazer com que nosso habitar no mundo tenha um sentido peculiar ao que queremos chamar como vida.

A insegurança demonstrada pela própria Simone em sua autobiografia durante a adolescência, de não encontrar segurança no lar e diante da família que tanto ama será capaz de gerar uma nova autoestima na personagem, mais forte, capaz de defendê-la e sustentá-la mesmo diante das críticas e desaprovações daqueles que a amam.

http://www.critiqueslibres.com/i.php/vcrit/5389