sexta-feira, 20 de agosto de 2010

As Representações dos homens de poder

"Originalmente, o caos das representações. As representações que combinaram umas com as outras restaram, grande número sucumbiu - e sucumbe." (Nietzsche, A Vontade de Poder, 2008, p. 268).


Eles não eram tão bonitos assim. Uma mistura de raças: american way com irish suggar, japonês com italiano, inglês com espanhol ou chineses em um fluente inglês.

Não importava onde, usavam ternos para trabalhar e, vez ou outra, mostravam um sorriso irônico na boca revolvida em wisky e cigarros caros logo pela manhã.

Envolvidos que estavam em políticas, em governos e em outros negócios interessantes ao redor do mundo, eram todos homens de poder que acordavam bem cedo, frequentavam academias famosas de madrugada e saíam para trabalhar às 8 da manhã num figurino impecável em seus automóveis caros.

Como em uma ficção 3D bem articulada, manejavam a vida perfeitamente através deste artifício, uma mistura de conhecimento e jeito de falar que sucumbe qualquer assunto, sem muito sentimento, tornando cada detalhe uma propriedade: o poder das palavras.

Não importava o interlocutor, a questão era sempre trazer à tona, de suas fontes e formas de expressão um outro caminho que movia a fala por histórias, explicações, a origem de tudo - o que eles muito sabiamente faziam trasparecer por meio daquilo que maquinalmente informavam. Tal jeito de falar vendia bem em qualquer lugar. O ritmo era importante. Traziam consigo a proximidade dos fatos. Além de muito charme, algumas sugestões e poucos movimentos.

É fácil nos apaixonarmos por quem não conhecemos ou por aqueles que conhecemos pouco: em qualquer direção que olhamos fica apenas o predomínio do desejo e das imagens que se formar em nós, que queremos apreciar como realidade. A imaginação pode ser um imbróglio para muitos filósofos, mas ela funciona muito bem para o início de qualquer tipo de história.

"Não cabe perguntar: 'quem interpreta?', mas sim se o interpretar mesmo tem existência (mas não como um 'ser': como um processo, um devir) como uma vontade de poder, como um afeto." (NIETZSCHE, 2008, p. 291).

Continuamos querendo histórias, continuamos querendo homens de poder, cada vez com mais velocidade. Chats, listas, blogs linkados são pequenas expressões de desejos e imagens que nos importam. Entretanto, basta conhecemos os cargos, as outras mulheres e fica difícil continuar admirando de maneira inócua a rotina do poder. Ele se esvai como uma sombra passageira, deixando apenas a figura nua de uma pessoa em seus artifícios.

Do que foi possível abstrair dessas representações, fica levemente uma certa impressão decepcionante. Essa impressão talvez surja a partir do momento em que passamos a observar as histórias e os movimentos se repetindo, mas para outros. Há o momento exato em que passamos a ouvi-las em outra direção: somo cúmplices, percebemos o truque, o plano da obra, o efeito das conversações e onde nos acertou o encanto. Com o tempo, nos viciamos em ver também a ingenuidade dos múltiplos outro nessa sedução. Isso faz com estejamos em dois lugares ao mesmo tempo em uma relação: o poder de um, o conhecimento da entrega do outro, dois espelhos com nossas imagens - antes, depois.

Como continuar? Por que continuar? Não existe cura para a imaginação. Talvez a busca ou um sentimento melhor possa vir de uma outra fiçção seguindo, sem brechas, a que acabamos de viver. Formar, ter impressões. Isso nos alimenta e precisamos da imaginação para continuar vivendo. Queremos um início e um final criado como autores, ter expectativas sobre qualquer tipo de assunto... Afinal, o não querer participar de uma ficção não é uma escolha que dependa somente de múltiplos eus. O envolvimento, as representações se firmam no início com a nossa chegada até em nosso jeito levantar e sair.

So, "DJ let it play...
I just can't refuse it
Like the way you do this
Keep on rocking to it
Please don't stop the
Please don't stop the music" Preferencialmente na versão Jamie C.